A França está em polvorosa por causa do contrato primeiro emprego (CPE). Os jovens estão na rua. Os movimentos estudantis, as organizações sindicais, mobilizaram nos últimos dias mais de dois milhões de pessoas que vieram protestar contra a excessiva precarização do emprego jovem.
Há quem considere que a proposta de primeiro emprego que concede às entidades patronais a possibilidade de nos dois primeiros anos, despedir o jovem trabalhador, quando quiser e lhe apetecer, vem promover a criação de mais emprego e fixar os melhores.
É um discurso a que já estamos habituados. Os patrões provavelmente acham ainda pouco. O ideal, para muitos, era que não houvessem regras e direitos dos trabalhadores. Direitos são privilégios.
De repente, lembro-me do Operário em Construção, de Vinícius de Morais, “dou-te todo esse poder/ e a sua satisfação/ porque a mim me foi entregue/ e dou-o a quem eu quiser/ dou-te tempo de lazer/ dou-te tempo de mulher/ tudo o que vês/ será teu se me adorares/ e ainda mais se abandonares/ o que te faz dizer não.”
Eles dão-nos. Dão-nos o emprego. Dão-nos o dinheiro. Dão-nos a saúde. Dão-nos a educação. Eles dão-nos tudo e nós ingratos ainda resistimos.
Não é uma simples alteração de trabalho que está em causa. É um modo de vida. É um estilo. O capitalismo quer mais, sempre mais.