(...)Reparava, ao abandonar a igreja, nos olhares dubitativos de alguns paroquianos, habituados à decrepitude inibidora do anterior pároco, para o qual o mundo fÃsico se resumia à igreja e à habitação contÃgua. Enquanto os adultos casavam a curiosidade com o silêncio meditativo, alguns jovens mais ousados interpelavam-me, satisfeitos pela presença de um padre jovial, nos antÃpodas daquele velho atemorizador, sempre de negro, portador, para aqueles vÃvidos buliçosos, não da Boa Nova mas da Má Velha. Torpedeavam-me com perguntas acerca do conteúdo da minha pequena mala, além de ser alvo de constantes reptos para jogar futebol. Acedia, com complacência, orgulho e ternura, a todos os pedidos, procurando, sempre, vincar a parcimónia que deve caracterizar um padre. Todavia, enquanto florescia o diálogo, pejado de cautérios emitidos pelos jovens argutos, apercebia-me da presença distante e perscrutadora de um rapariga. Serena e hermética, nunca me dirigiu a palavra, mas sempre me dirigiu vislumbres.(...)
In Estranho Estrangeiro
(continua)