ConcluÃ, num assomo de fúria, que não é lÃcito, ou socialmente aceitável, o trajo conjuntural de mendigo, enquanto a transformação em portador de fausto merece o aval geral. Ninguém se indigna se um indigente rechaçar as farpelas e envergar uma indumentária que simboliza a riqueza. Ao mendigo nem é permitido sonhar. Se me aceitassem como mendigo efémero, eu próprio poderia incorporar o disfarce, acreditando na sua essência momentânea. Todavia, como outro que era inúmeros, a máscara de pobre suplicante agarrou-se à cara, como coisa verdadeira e fardo eterno. Ao destrinçarem o embuste do meu disfarce, deduzo que existem idiossincrasias intrÃnsecas a um verdadeiro mendigo, inalienáveis e inimitáveis, mesmo no Carnaval. Por fim, um privilégio. Somos, verdadeiramente, únicos, e nem o postulado da igualdade anula a singularidade da mendicidade.
In Estranho Estrangeiro