4.03.2006

joaosevivas

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Frase do dia: Confiar é amar para além da esperança

Neste dia em 1992 houve a integração do escudo no Sistema Monetário Europeu

Poema do dia:

Cansado de nada fazer e tudo inventar
Amarro o barco
Vou para o cais ver as gaivotas
Desafiadoras dizem-me que não há tempestades
Uma taberna pega-me na mão e dá-me um copo
A cheirar a maresia engulo duas pataniscas
É o anzol que me chama
Para onde vou? Não sei
Disforme tudo me sai dos olhos
Eu não caibo em mim
Tiro o lápis e o quadriculado secos de sal
Enquanto pouso a boina
Companheira antiga que me lê o suor
Escrevo e as palavras navegam sem destino
Deixai-as correr como as gaivotas sem praia
Olho o vento e o meu barco é um banco
Mais sábio do que eu
E sigo como sempre a olhar as letras como estrelas
De um céu que não é meu
Entram e saem cometas, bússolas, gente
E no meu canto encontro alguma paz
Quero esquecer, esquecer-me
Ser um peixe, uma pedra, um barco, uma rede
É difícil estar aqui
O meu lugar não sei onde é
Se calhar entre as ondas
E bebo mais dois copos de sede
As gaivotas gritam, o mar agita, o vento sopra
O meu barco chama por mim
Quer enfrentar, o doido, quer enfrentar
O quê? Não sei
Caem do céu, vêm do mar e dos meus olhos bátegas de vida
E eu vou desamarrar o barco e morrer com ele em qualquer porto
O mesmo lápis, o mesmo quadriculado
E o mar nem me viu
Recolhi-me no barco em silêncio
Mais âncora, mais fundo e temi o vento
Abri todas as garrafas e bebi o sabor e o cheiro
Desse mar que me vencia
Em gotas de águas que rasgavam as velas
Do belliche dos meus olhos subi a custo
Entre vagas traidas que me culpavam
Os braços seguiam à frente e
Na boca beijava a doçura de outras águas
Cobri os lábios de dentes e subi ao leme
Às voltas entre cores de sonho
Agarrei-me a abri o peito
Onde todas as letras se afogavam
O sentido, a leitura da vida era outra
Temi repetir o que antes me enganara
Olhei o barco de gasta madeira
E os dedos os mesmos, mas o mar estava ali
Salpicava-me mordia-me e as ondas
Cobriam-me, desnudavam-me
Nada era igual
Prendi nas mãos todas as estrelas
E corri à terra, a essa praia onde
As gaivotas fiolosofavam a minha loucura
Algumas vezes caí outras tantas me ergui enquanto esquecia
Aquele canto, aquele canto e bebia
Atordoado e vivo
Saboreava a companhia do mar
Do barco, da sondas, do vento e da chuva
Da boina e das mãos que abriam
A mesma página da vida