Trespasse embargado (para quem se esquece)
Subjugado pela opaca conjura e curvado perante o poder da lassidão, quis morrer. E morreu. Nesse dia, na iminência do estertor, pensou nos momentos em que duvidara de Deus, o mesmo que viabilizava o desejo mórbido de sucumbir à glória de um dia, quando todos falam, antes de esquecer. (...) Se nada fazia prever o trespasse, também nada fazia prever a entrada, durante o derradeiro suspiro, dela. Quis recuar e perjurou, suplicando a Deus, de braços estendidos sob uma face demasiado alvinitente para contemplá-la, o esquecimento do desejo. Mas Deus não esquece. Já havia sido desapossado da faculdade de verbalizar, mas ouviu a voz desesperada dela. “Não! Não vás! Volta, por favor, volta! Preciso de ti, não te posso perder. Desculpa-me. Esqueci-me de que te amava, realmente”. O Homem esquece.