Duro
Gostaria de me esquecer de que, hoje, faço anos. Porque, hoje, "não faço anos. Duro". Por isso, gostaria que o "outro" vivesse em mim. O "outro" que olvidou o meu aniversário. Nasci há alguns anos, e nada mais sou do que aquilo que sou. O que sei não sei. O que serei será, certamente, algo que hoje não sou e amanhã não quero ser. Porque o caminho do Homem livre é brumoso e serpenteante, semelhante ao breu e aos lençóis que me envolvem, agora, enquanto um carcomido bilhete de identidade confirma que nasci e vivi. Um dia, se o inverosÃmil assomasse, diria: "Morri". Mas há Homens sempre mortos, ou lazarentos. E poucos contam com a exortação taumatúrgica do Messias. Estar vivo não é, sei-o, sinónimo de Vida.