Depois da morte do meu pai, lastro que adiava a tendência entrópica da família, fui sugado por um voraz remoinho de desventuras. O que era, desde esse preâmbulo do cataclismo, entrincheirou-se nos recessos abstrusos do torpor, no quarto túrbido onde inspiro o odor fétido dos cães vadios que a minha mãe recolhe, nas ruelas que a sociabilidade atribuiu aos noctívagos insones. A coabitação com cães de rua, macilentos e imundos, contagiou-me, transformando-me num errante, sem tecto nem solo, que jaz nas esquinas, onde acordo, mais seco de vida do que os rastos serpenteantes de urinas, com o cântico dos galos ou escorraçado pela viúva madrugadora.
In Estranho Estrangeiro