Todas as religiões asseguram, como zénite de uma depuração, a salvação. Mas a ascensão a esse monopólio do bem pressupõe a fuga ao apocalíptico. A nossa cultura, assente nos substratos civilizacionais greco-romano e judaico-cristão, convive com estas vertigens causadas pela proximidade, insidiosa e velada, do abismo. Há, por isso, muita vertigem nestes espasmos sociais. O optimismo empedernido, e ataviado com bandeiras, que se alastra por Portugal e pela diáspora, encapota o medo da queda. Ou o medo de, montados sobre o cavalo branco da redenção, sejamos apeados por Angola, Irão e México, os três restantes cavaleiros do apocalipse.
In Estranho Estrangeiro