8.21.2006

Inquietação dos dias

Aquela tarde de férias, nas minhas piores férias de sempre, passou a evaporar-se de um sopro. Tudo me caía às mãos e logo tudo das mãos desaparecia. As mãos, sempre as mãos a convocar o sol e a tecer as mantas que me hão-de agasalhar no próximo inverno.

O tear é essa imensidão de repouso e descanso que ora passa por um tempo desprevenido e severamente abandonado, sem que outro linho lhe segrede a idade.

É Agosto e tudo está queimado. Todos os montes por aqui cheiram a terra queimada. A terra tomou a cor negra do carvão. As aves desapareceram. Todos os animais selvagens foram engolidos pelas chamas. Morreram milhares homens, mulheres e crianças. E os rios onde outrora mergulhei sonhos e ilusões não seguram sequer uma réstia de azul. Tudo por aqui é estranho a este olhar esbatido pela tarde que ora vai ao fim.

Antes, eram os bombardeamentos no Líbano; e o meu olhar húmido. Era Israel a furar o mais um tratado de cessar fogo; e a minha esperança entristecida. Era a hipocrisia dos americanos a ver os estragos da guerra; e a minha inteligência insultada.

Vou não vou, decido-me, olho em frente e caminho por dentro destes dias de inquietação para me insurgir contra essa corja de incendiários e patifes de guerras santas que soltos ainda se passeiam por lugares que elegi para deles fruir do verde e da frescura.

O olhar estende-se inquieto pelo negrume das cinzas que por este chão ficou, e tomo uma palavra para nela expressar o meu repúdio: - Porra! - É aqui que vejo que uma só palavra vale tudo e mil palavras valem nada. E que mais poderei dizer sobre a paisagem?