8.12.2006

Ficar de fora?

Ontem a polícia inglesa impediu um atentado, que teria morto centenas depessoas, que viajavam inocentemente de Inglaterra para a América. A ideiaera fazer explodir em voo um número ainda indeterminado de aviões. Forampresos 21 indivíduos, mas com certeza escaparam alguns. Para começar, é bomperceber que uma operação desta envergadura não se improvisa. Exige umconhecimento técnico avançado, liberdade de movimentos, muito dinheiro euma extensa rede de cumplicidades. Mais do que isso, precisa para sedesenvolver de uma atmosfera favorável. O Ocidente, no caso a Inglaterra,oferece tudo isto aos terroristas. Respeita o seu direito à cidadania,protege a propagação de uma doutrina de intolerância e ódio e não pune,como devia, o incitamento à violência. Não estamos perante vítimas semdefesa de uma "globalização" cruel. Estamos perante gente sofisticada, queo Ocidente educou e deixou crescer.O fracasso da invasão do Iraque provocou, naturalmente, uma contra-ofensivaxiita. No próprio Iraque, no Irão e no Líbano, essa ofensiva paralisou oOcidente e forçou Israel a intervir. A farsa das negociações, com a Françaou sem a França, presume que a guerra com o Hezbollah pode ser localizada econtida. Não pode. Por um lado, qualquer trégua ou interposiçãointernacional só favorece o Hezbollah, que terá tempo de recuperar econtinuará fatalmente a receber armas. E, por outro, o mundo muçulmano nãovai ignorar a manifesta fraqueza política e militar da Inglaterra e daAmérica. No Afeganistão os taliban voltaram. A boa-vontade do Paquistãoarrefeceu. Há sinais de confluência do terrorismo xiita e do terrorismosunita. E o ataque, planeado em Londres, mostra até onde o islão se dispõea ir.Infelizmente, o homem médio da Europa e mesmo da América não acredita narealidade de um islão agressivo. A tese oficial da "minoria extremista",que a grande e virtuosa maioria muçulmana condena, encoraja a complacênciae o desinteresse. Tirando o preço da gasolina, quem se importa com asquerelas do Médio Oriente e do Afeganistão ou com o que dizem e não dizemem Hamburgo ou em Londres clérigos furibundos, de turbante e barba? Mas,desta vez, não basta não ver e não ouvir. O Ocidente perdeu a iniciativa eos foguetões do Hezbollah, que chegam a Haifa, também chegam a Inglaterraem forma de bomba. Não há maneira de ficar de fora.

Vasco Pulido Valente
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