Tenho-me vindo a aperceber que cada vez menos gente escreve sobre a situação do país. A ausência de opinião levaria um observador abstraído, por exemplo, um estrangeiro, a imaginar que nos últimos dois, três anos, os bloggers se têm calado porque as coisas entretanto melhoraram. Não é assim. Pelo contrário, já chegámos ao ponto em que toda a gente com um bocadinho de inteligência já disse tudo o que havia para dizer e até já desistiu de voltar a explicar o óbvio.
Resta-nos, portanto, comentar as notícias que vão surgindo a público. Saliento o "a público" porque muitas destas notícias não são notícias para quem as recebe e algumas vão chegando com 10 anos de atraso, mas dos nossos jornais e televisões não se espera mais do que aquilo que os donos os deixam dizer.
Notícia impressionante foi aquela de que se chegou à brilhante conclusão de que 35% dos pobres têm emprego, isto é, que 35% das pessoas que trabalham são pobres. Chamam-lhes até "os novos pobres".
Se há novidade, é os pobres que trabalham serem tão poucos. Eu ainda sou do tempo em que toda a gente que trabalhava era pobre. Do merceeiro ao polícia, do professor ao empregado dos correios. Os únicos que se safavam bem eram os médicos e mesmo assim eram pagos em galinhas e chouriças. Se houve alguma diferença, entre esses tempos que eram os anos 70 e a euforia dos anos 80, em que as pessoas acharam que se trabalhassem tinham dinheiro para comprar casa e carro e gasolina e roupa e comida e férias, foi a mais pura ilusão. Não são novos pobres. São pobres que tiveram a esperança de o deixar de o ser.
Continua